domingo, 11 de setembro de 2016

Dilma e o gol na pista

Após uma longa semana no final do longo agosto, Dilma, já sem seu carro oficial da presidência, chama um Uber pra chegar até seu hotel em Brasília.
Eis que surge dirigindo um gol pérola, o seu Itamar. Coincidências à parte, seu Itamar não tinha topete.
- Dona Dilma?
- É seu Itamar. A coisa ficou feia. Não tenho mais o carro oficial.
- Mas de pool, senhora?
- Eu quero ver a reação do povo brasileiro com o golpe. Mais mar que já tá não fica, seu Itamar - fazendo uma singela piadinha com o simpático motorista.
- Vamos pra onde? Palácio da Alvorada?
- Nada, seu Itamar, já não piso mais lá. O senhor não leu as notícias de hoje?
- Ué, mas alguém colocou o endereço do Palácio da Alvorada aqui.


De repente a porta se abre, Michel Temer entra no banco da frente, sem olhar pra trás.
- Seu Michel? - pergunta confuso o motorista.
- Palácio da Alvorada, seu Itamar. Coincidência de nome, hein, ainda mais hoje.
- Mas de pool, seu Michel?
- Quero ver a reação do povo brasileiro nesse dia maravilhoso. - diz Temer.


Nesse momento, Dilma se apoia no banco.
- Prazer, povo brasileiro.
- Dilma? O que é isso, uma armação contra mim, vão me sequestrar?
- Calma, Michelzinho. O Itamar aqui é franco quando diz que é motorista, então nem precisa se preocupar. Foi só um golpe… do destino.


O motorista arranca pro Palácio da Alvorada.
- É, tantos dias passados lá, se acaso eu tiver esquecido algo, você pode me enviar, Michel?
- Claro, quer inclusive que te mande seu vento estocado?
- Nossa, existe bom humor dentro desse corpo vampiresco. Eu sabia que tinha vida aí dentro.
- Engraçadinha. Tá irritada porque perdeu o cargo?
- Nada! Aquilo é uma bucha só. Né, seu Itamar?
- Deve ser sim! - responde o simpático motorista.
- Cabeça erguida. Pra me derrubar, precisa de muito mais do que Ustra e 61 golas engomadinhas.


O Uber para. Chegaram na Alvorada.
- Bom, foi um prazer. Tchau querida! - sai rindo Michel do carro.
- Curta enquanto é tempo, né seu Itamar? - diz Dilma
- Deve ser sim! - concorda o motorista. Nossa, já tão chamando de novo.
- Agora sim, vai entrar alguém do povo, e o senhor tá ganhando dim dim.


Abre a porta, entra Fernando Collor de Mello.
- Collor? - fala confuso o motorista. - No pool?
- Olá… seu Itamar né?! Quanto tempo, hein - faz uma piadinha. No pool porque quero estar ao lado da minha gente neste momento que tanto me lembra.
- Mas não é possível, só tem político em Brasília, cadê o povo? - fala Dilma.
- Dilma? - diz Collor confuso.
- Peguei o pool pra ouvir o povo e só entra político neste golpérola?
- Desculpa, dona Dilma, mas vou ter que levar seu Fernando primeiro, é mais próximo! - fala Itamar, arrancando com o carro.
- Não é culpa sua, Itamar.
- Fale por você. Na época, fiquei com uma raiva daquele topetudo. Sentando na minha cadeira, fazendo os pronunciamentos, saindo em revista, jornal, na TV. Fiquei mordido, não podia nem ouvir falar no topete alinhado dele.
- E o que você tava fazendo no Palácio da Alvorada a essa hora? - pergunta Dilma.
- Vim matar a saudade. Fazia tanto tempo que não passava aqui.
- Você está emocionado, Collor?
- O dia de hoje foi muito difícil, abriu feridas antigas.
- Nossa, espero nunca agir assim. Supera isso, cara.
- Superei, eu acho. - diz collor com a voz embargada.
- Chegamos - diz o motorista.
- Já? Nossa, os carros de hoje em dia não são a carroça da sua época, né Collor? - brinca Dilma.
- Bom, minha gente, minha boa noite!
- Se agasalha bem, ou você pode pegar um golpe… de ar - brinca Dilma.


Collor sai do carro. E o celular apita novamente.
-Nossa, desculpa, dona Dilma, mas vou ter que pegar mais um passageiro.
- Fica tranquilo. A partir de hoje tô com tempo.


O motorista vai entrando por umas ruas escuras e chega até o passageiro. Aécio Neves entra.
- Aécio? - já meio zonzo, diz o motorista. No pool?
- Quero ouvir a opinião do povo brasileiro sobre a vitória de hoje. - diz Aécio.
- Ah, era só o que me faltava, isso só pode ser piada, pegadinha, o senhor é o Gugu, seu Itamar?
- Não, dona Dilma, e vou ter que levá-lo antes. Desculpe.
- Dilma? - se espanta Aécio. Isso é artimanha da esquerda?
- Pode ficar tranquilo, seu Itamar é família tradicional brasileira.
- Na verdade eu sou gay. - diz Itamar.
- Continua não tendo motivo nenhum pra se preocupar, né seu Itamar?  É só um golpe… de sorte estarmos aqui juntos.
- Eu não como mortadela, querida, não entendo esse lance de golpe - brinca, Aécio.
- E eu odeio farinha no arroz com feijão. Fica seco, intragável.
- Pede uma cachaça pro Lula pra descer mais fácil. - sugere Aécio com sarcasmo.
- Não precisa, eu mesma tenho em casa. Mulher também bebe. Aliás mulher faz o que bem entende, até ser presidentA, né seu Itamar?
- Deve ser, sim! Estamos quase chegando. - diz o motorista desnorteado com seu dia fora do comum.
- Ótimo, porque esse ambiente está pouco convidativo.- diz Aécio.
- Não cheira bem, né Aécio. - brinca, Dilma.
- Ué, recalculou a rota aqui. Vou levar a Dilma primeiro. - revela o motorista, confuso.


Dilma começa a rir.
- Como nos velhos tempos. No último minuto, eu chego na frente.